sábado, 23 de maio de 2009

A minha família nos anos 50, 60 e 70

Nos tempos em que o meu avô materno ainda era novo, vivia nas Aranhas, uma pequena aldeia situada perto da fronteira espanhola.
O meu avô vivia numa casa feita de pedra, com as divisões em madeira, sem casa de banho, nem electricidade, nem água da rede. Era a luz de uma candeia a petróleo que os iluminava e iam buscar água ao chafariz da aldeia. Comiam praticamente do que cultivavam na horta e dos animais que criavam.
Quando era feita a matança de um porco, as carnes eram conservadas na salgadeira (arca feita em madeira que levava sal grosso), as bebidas eram metidas num poço com água, para ficarem frescas. O pão que comiam era feito pelos cereais moídos por eles e era cozido no forno a lenha. Raramente comiam peixe, apenas quando improvisava uma cana feita por ele e ia pescar para a ribeira que dividia Portugal da Espanha.
Era nessa ribeira que estavam os guardas de fronteira. Algumas vezes o meu avô saltava de um lado para o outro, sem que eles vissem, para ir comprar leite em pó, latas de ananás, bananas, entre outros. Isto, porque na Espanha conseguiam alguns produtos mais baratos. Durante o Inverno, o aquecimento era o lume da lareira e este servia também para, numa panela de ferro, fazer a comida.
Diz o meu avô que trabalhava no campo de sol a sol, para poder sustentar a família. Como não tinham dinheiro, não havia luxos. Os sapatos passavam de irmão para irmão e ainda cortavam a biqueira para dar para mais tempo. Muitas vezes, andavam descalços. Era na taberna da “Ti Luz” que se juntavam para jogar às cartas e combinar caçadas, pois o meu avô, nos bocadinhos que arranjava, era caçador. Tinham também uma equipa de futebol
Quando estavam doentes, era o “Ti Amílcar” que lhes receitava uns chás de ervas do campo.
O meu avô obrigava os filhos a irem para casa antes do pôr-do-sol, não deixava as filhas saírem sozinhas, nem ir a festas.
O meio de transporte mais utilizado era a carroça puxada por burros, pois só os mais ricos é que tinham mota ou carro.
Quando surgiu a luz eléctrica na aldeia, era na taberna onde se juntavam que havia uma televisão a preto e branco e uma telefonia.




Pedro Ramalho